sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Crisálida
Há quanto tempo ninguém visita este corpo? E quanto tempo mais continuará sem que ninguém o encontre? Pode parecer estranho, mas a casca é pequena demais para o que existe lá dentro. É pouco, estreito e sombrio. O espírito quer algo a mais, um escapismo, um êxtase consumado, a perpetuação do momento. Paradoxo perfeito que a todo instante se confirma. Há a necessidade de estar junto de outra casca e até de compartilhá-la. Mas por sua própria casca é aprisionada e impedida de desfrutar do infinito. E até onde esta casca é sua? Ela se degrada com o tempo, entristece. O espírito não. Então talvez o problema seja este. Não apenas a vontade de que alguém faça companhia à sua casca, mas à essência também. Alguém que pudesse acompanhar no ato de ser. Pudesse brindar à existência como uma graça, algo suave e desejado. Que pudesse brindar apenas pelo fato de estar junto em qualquer lugar, no infinito, na casca, no momento. 

sábado, 7 de julho de 2012

Ideias


         Escrever um texto é como criar um personagem. Ele começa a desenhar-se livremente, se autoconstruindo. Escrever um texto é deixar as ideias dançando no papel, brincando e dando cambalhotas. É deixa-las discutirem entre si e resolverem qual o melhor destino para a caneta.  Vão criando o ambiente, colorindo os objetos, tocando instrumentos e musicando versos.

             Quando alguém escreve um texto, deixa uma parte sua desenvolver-se sozinha, como um filho. São ideias do autor que tomam uma forma própria. Uma vez no papel, as ideias serão redesenhadas a cada vez que um leitor for visita-lo. O texto então terá várias faces, dependendo de quem o interpreta.

           O autor é apenas um veículo usado pelas ideias para chegarem ao papel. Dali em diante elas vão frequentando outros pensamentos, visitando novas mentes, experimentando novas visões. Não são estáticas. Estão em constante movimento e sempre têm muito a dizer.  Vão viajando pelo mundo, espalhando-se, transformando-se. As ideias são almas, palavras são corpos, então as ideias encarnam-se. Seguem o caminho que bem entendem e constroem o mundo do jeito que querem.  Ideias são quase independentes. São senhoras de si e embriagam quem as tomam.

        Ideias são espíritos livres que vagam pelas esquinas enfeitiçando poetas. Ideias são eternas. São metamorfoses ambulantes. 

sábado, 23 de junho de 2012

Fingida Feição do Espelho


Ela se olhou no espelho e começou a tirar todas aquelas máscaras que cobriam seu verdadeiro rosto. A primeira a ser removida foi a vaidade. Era dentre todas, a máscara mais bonita. Vinha num tom vermelho brilhante, mas era também a mais fina, a mais frágil. 
A segunda máscara se chamava egoísmo. Essa era azul-escuro e foi uma das mais difíceis  de ser tirada, tinha o formato exato de seu rosto.  
A cada máscara que ia tirando, as lágrimas iam escorrendo. Se sentia limpa e livre, como jamais sentira antes. Quanto mais se despia, mais profundo ia. Começava a se conhecer de verdade e pela primeira vez, desde que estreou nesta vida.
Por fim, a última máscara que se arriscava a tirar era o orgulho. Essa impregnava seu rosto. Era preta e a mais grossa. O disfarce começava  a derreter, gerando pingos grandes na pia branca do banheiro. Doía muito se ver livre daquilo. Tirava com cuidado e de vagar, para ir se acostumando. Quando conseguiu terminar, seu rosto estava na carne viva. Mas ela estava bela. Bela como nunca, bela de verdade, nua e crua. Pronta para enfrentar os maiores desafios da vida, sem medo, sem apego, sem posse. Estava tão livre, que poderia até voar. E ali, em frente ao espelho, ela encontrou a felicidade. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Realidade Ilusória

Não sei para quem nós apresentamos nosso espetáculo, cenas improváveis, improvisadas.
Fomos nós os nossos próprios espectadores? Provavelmente.
Você ali, fingindo que me convencia e eu convencida e fingida.
Fingi que acreditei  e que você precisava de mim. 
Protagonistas e antagonistas, nos demos as mãos e empurramos com a barriga.
Verdade? Bobagem. 
Me arrependo de não ter vendido ingressos e colocado nossa peça em cartaz.
Lágrimas de frascos, palavras pensadas.
Você me disse o que eu queria ouvir e eu, cheia de satisfação insatisfeita, topei o pacto. 
Procurei interpretar o meu papel com veemência, mas tive que abrir os olhos, afinal.
Me despedi da ilusão que eu ajudei a criar, desci do palco, abandonei as máscaras e o figurino.
Esqueci o texto, cansei das palavras ensaiadas.
Decidi viver minha vida com os pés na realidade. 
Abri os olhos e só agora posso ver que, por causa do orgulho, quase morri 
No espaço entre a loucura e a realidade. 


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mundo Descartável

Naquele dia, cheguei em casa e pluguei meus dedos na tomada. Meus olhos começaram a transmitir o jornal da TV, que noticiava roubos,  fraudes, acidentes e desvios, pessoas em favelas passando fome, a sede no sertão e concentração desleal de renda. Minha boca, sintonizada nas ondas de rádio, gritava músicas descompassadas e desrespeitosas. Meus ouvidos, antenas ligadas, rodavam procurando algum sinal. 
As pessoas da casa procuravam parafusos para consertar os braços e pernas quebrados. Jogavam pela janela latas enferrujadas e comida fast-food. 
Na rua, ouvia-se tiros, como se as pessoas travassem uma 3° Guerra. As balas batiam no peito e amaçavam a lataria brilhante. 

Antenada em tantas coisas ao mesmo tempo, comecei a sentir meu corpo quente, estava ficando cada vez mais carregada negativamente. De súbito, pifei. Nessa hora, não conseguia mais pensar. Aquilo que restara de mim concentrava-se em tentar me manter conectada. As redes sociais começaram a divulgar o meu triste destino de objeto queimado e centenas de pessoas curtiram o fato. Nesse mundo onde todos adoram um desastre.

Triste, meus olhos começavam a derreter. Tudo estava ficando obscuro, meus sentidos se esvaíam, meu corpo estava fundindo. No último suspiro antes de me desligar, olhei para aquela que me fez como numa súplica. Meu coração batia cada vez menos. Será que ousaria me jogar fora? Ou ainda cogitava a possibilidade de me consertar?



domingo, 6 de maio de 2012

Apneia

O relógio, sempre impiedoso, me olha como se me repreendesse. 
Tudo à minha volta é frio, as pessoas parecem não entender o que eu digo.
Escuto vozes que não são daqui, sonho com lugares inexistentes.
Não há pra onde fugir e, mesmo se houvesse, nada seria diferente.
Tudo está fora do lugar. Pessoas, gestos, vozes.
Parada, espero meu peito queimar em sentimentos desejando que o mundo queime junto, mas nada acontece.
Tento estabelecer uma ligação forte comigo mesma, mas é quase impossível.
Minha mente está desconectada do meu corpo e nada posso fazer até que o tempo passe.
Sinto tanto! Eu não queria o mundo desse jeito. 
O meu real desejo é continuar naquele mundo infame.
É apenas uma questão de auto-proteção. 
Sinto falta de respirar, de mente e corpo juntos. Sinto, sinto.
E é uma pena que você não saiba disso. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um conflitante diálogo comigo mesma

Desde que nascemos, somos submetidos à nossa própria opinião e à opinião alheia sobre quem somos. Aos olhos de quem nos vê, somos alguém com certas características, certos gestos e atitudes. Aos nossos olhos somos alguém que, muitas vezes, não é o mesmo alguém idealizado por quem nos observa. Se nossas atitudes dizem muito sobre nós e estão orientadas no espaço em que vivemos, ou seja, estão relacionadas com o mundo que nos cerca, as tomamos por um motivo, causa ou razão que se enquadra na sociedade. Logo, se essas atitudes são "escolhas" pré-existentes no meio em que vivemos, não as tomamos por acaso, o que faz com que não possamos escolher uma maneira de ser ao acaso. - Pensava eu enquanto olhava através da janela do ônibus . O dia acabava de começar e estava ensolarado. 

Com as relações com pessoas e sociedade que nos são bombardeadas logo que tomamos consciência de nós mesmos, deixamos de ser quem ainda não somos para nos tornar fruto da nossa imaginação, da imaginação alheia e da sociedade em que estamos inseridos. E já que vivemos em conjunto e pelo que consta, isso nunca irá mudar, então nunca seremos nós mesmos, puros por natureza, sem influência de um meio externo. - Articulava eu uma explicação para me convencer do "ser ou não ser". Nessa hora, a moça que estava sentada ao meu lado deu sinal para descer do ônibus. Dando licença à jovem, quase deixei fugir o pensamento que me embriagava. Forcei para puxá-lo pelo pé. Com muito custo, consegui me lembrar da última palavra que pensei. 

Ditados por tudo que nos cerca, menos por aquilo que seríamos puramente e nunca seremos, moldamos a sociedade que nos molda e criamos novas personalidades que serão e não serão. Um ciclo vicioso que criamos e que nos cria. - Suspirei eu num alívio misturado com pesar. Pesar, pois tinha acabado de descobrir que era exatamente aquela a verdade de que eu tanto precisava para me convencer. Mas tinha descoberto também que aquela discussão que eu criara era o monstro que me engoliria um tempo mais tarde de tanto pensar sobre ele. Para minha sorte, o ônibus se aproximava do meu ponto de descida e parei de filosofar para me preocupar com o modo que usaria para passar naquele labirinto de pessoas que estava no ônibus. Por fim, desci do automóvel e continuei meu caminho, sendo engolida vagarosamente pelo monstro que eu mesma criei. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Primeiro.

Pri.
Prim.
Primeiro.
Primeiro minuto, primeiro dia, primeiro mês, primeiro ano.
Primeiro século, primeiro milênio.
Primeiro.
Prim.
Pri.
Primeiro lugar, primeiro olhar, primeiro beijo, primeiro amor.
Primeiro toque, primeiro perdão, primeiro choro.
Primeiro.
Prim.
Pri.
Primeiro suspiro, primeiro raciocínio, primeiro soluço, primeiro passo.
Primeiro caso, primeiro laço.
Primeiro.
Prim.
Pri.
Primeiro inverno, primeiro suicídio, primeiro assassino. Primeiro desígnio.
Primeiro.
Prim.
Princípio, meio e Fim.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Amplificador Distorcido

Eu tenho medo. Medo do seu poder, da sua ganância e da sua ausência de limites.
Eu tenho medo porque você não respeita os meus direitos, tenho medo de passar fome por sua causa,
de perder pessoas por sua causa e tenho medo de morrer por sua causa.
Você que mora no esgoto, seja mais que um ladrão. Reconheça que existem outras coisas além
do dinheiro sujo de sangue que você ganha.
A sua gravata é tão sórdida quanto o papel que você usa.
Seu cinismo me enoja e gente igual a você não me representará nunca.
Pobre desse meu povo que tem você como amplificador distorcido.
Seu nome é Político e seu sobrenome é Desonesto.
Todas as suas atitudes só alimentam minha desilusão e assim eu reafirmo.
Enquanto isso não terminar, meu voto ninguém terá.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Excruciante

Os gritos abafados daquela criança revelavam uma vontade enorme de não sentir aquela dor. Abraçava-se de forma estranha, como se quisesse desaparecer.  Suposto fato atroz dominava a atmosfera da sua vida. O que teria realmente acontecido ela não sabia, mas para causar tamanha dor bastava a dúvida. Não ouviria mais aquelas vozes? Não abraçaria mais aquelas pessoas? Ela preferia morrer a sentir a ausência. Era como se destruísse um pedaço do coração a cada nascer do dia. A lembrança não lhe abandonava. Para viver daquele jeito, a cada segundo sentindo o gosto amargo da morte, preferia partir de uma vez, sentir toda aquela dor pela última vez e definitivamente.
Tomando coragem, olhava para os braços e para a faca que se encontrava ao lado da cama. Via aquela macabra imagem infinitas vezes, revivia aquele momento terrível mais e mais uma vez. Não estava mais aguentando. Respirou fundo. Quis gritar e nunca ter existido. Pediu perdão a Deus por sua covardia e fraqueza. Ela não superaria aquela hipótese. Se contorcendo e gemendo baixo, as lágrimas já transbordando, olhou uma última vez para aquele instrumento cortante. Pegou-o com muita força, apertou-o contra o peito. Disse os doces nomes das pessoas que mais amava e sorriu. Serena, mais leve e viva começou a perfurar o pulso direito.  O sangue vermelho escuro começou a escorrer e contrastar com a camiseta branca.
Por incrível que pudesse parecer, a dor física era reconfortante perto da dor causada pelo possível fato recente. Para onde iria ela não sabia, mas não tinha medo, não se importava. Queria apenas esquecer por um segundo, deixar de respirar, deixar de sentir aquela dor.
Em seu último suspiro, reviveu em um segundo o que levou alguns anos para acontecer. E lembrou-se da feliz vida que teve.
Então partiu, doce, serena, como sempre foi. Como uma manhã de Natal.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vaidade

Nove máscaras, nove desejos, nove omissões, nove crimes
nove mentiras e nove loucuras.
As dores do meu coração fariam você me dizer a verdade?
Mas você não se importa com ninguém.
Olhe nos meus olhos e olhe para você. Isso não te fará melhor.
É só a imagem, o reconhecimento de pessoas que não sabem nada sobre você e não estarão ao seu lado quando cair.
É apenas questão de opinião, caráter e consciência limpa.
Mas você se acha tão esperto, você está tão certo que você nunca vai errar.
Quisera eu te dizer o quanto vale sua imagem bem vista na praça.
Você sabe o que é ser honesto?
Grande passo seria honestidade consigo mesmo.
Mas não. Para você, o espelho revela somente aquilo que você mostra.
Liberte-se das suas mil imagens tricotadas.
Esqueça a opinião alheia, mais vale uma verdade do que mil mentiras bem contadas.
A maldade é degrau acessível, caminho de pedras é a benevolência.
Sinal de respeito é oferecer a verdade. Crueldade é impor a mentira.
E que sua recompensa venha a cavalo, trazendo flores para mostrar o melhor caminho.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Amizade

Duas amigas conversando:
- Nossa, ontem eu trabalhei tanto! Fiquei em pé o dia todo...
- Eu fiquei o dia todo na faculdade. Tive uma prova de Cálculo ontem. Só não zerei porque acertei o item a da primeira questão.
- Quantas questões tinha a prova?
- 10.
- Toca ai, nós estamos feitas.
- Eu sinto saudades daquele tempo. Daquelas horas que conversávamos sobre o nada a achávamos que a vida era dura. Sinto falta do nível mais baixo de responsabilidade que se pode ter. Sinto falta da sua gargalhada quando fazíamos alguma coisa errada ou quando surgia uma briga idiota por causa de trabalho bobo. Sinto falta daquele "gostar" inocente, aquilo era o máximo que sentíamos pelos garotos. Eu sinto falta de sair a noite, sentar na calçada e ficar comentando sobre as pessoas na rua. - e olhou para a amiga que estava com os olhos cheios d'água.
- Eu também sinto falta. Aquele povo lá do serviço só serve pra falar mal dos que estão trabalhando. É um querendo derrubar o outro, querendo tomar o cargo do outro. Nenhum sinal de harmonia. É tenso.
- Mas agora é vida nova ne?! Nada de tempo pra conversar sobre o nada. Agora é "ralar" de segunda a sexta, das 7:30 da manhã ás 00:00. Sábado? Apenas para estudar as matérias da faculdade. E se sobrar alguns minutinhos, quem sabe pausa para descanso!
- Mas você sabe... eu guardo as nossas conversas comigo, guardo tudo. Desde nossos momentos de depressão aos de maior euforia! E eu vou lembrar pra sempre que eu sempre tinha seu ombro em todos esses momentos.
- Ah é, pilantra? Que eu saiba você sempre teve muito mais que meu ombro. Teve meu abraço, meu alento e até minhas roupas! - E ficaram ali, sentadas na praça, rindo e lembrando de todas aquelas situações que haviam passado juntas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Chuva

Talvez eu seja uma egoísta mimada que só pensa no próprio mundo, no que quer fazer e no que não quer que aconteça. Mas se eu não souber dar conta de mim mesma, como poderei dizer ou querer qualquer outra coisa fora de mim? Ainda tenho que fazer muita coisa, mas antes preciso me convencer daquilo que quero dizer ao mundo. 
A chuva cai forte e eu consigo me sentir atraída por ela. Me causa medo, ao mesmo tempo que me é tentadora. É irresistível a vontade de fazer parte dela. Os relâmpagos me dizem algo que eu preciso ouvir, mas não consigo entender. 
Enfim, eu aqui assistindo a tudo isso acontecer, a chuva chover, o vento soprar...e eu olhando como boa espectadora que sou. Então, já que não posso fazer parte disso, o único jeito de atuar é em mim mesma. A única coisa da qual faço parte realmente.
Entretanto, Eu não sou totalmente minha. Um dia meu corpo se calará, perderá meus movimentos, se cegará. Assim, eu não terei mais espaço delimitado. Culminarei enfim, engolindo minha existência.

Mas antes ainda há muito para fazer, me curar das doenças que mais repudio, negar aquilo que sou e me convencer daquilo que defendo. 
Então, quando os meus atos condizerem com meus pesamentos, ai sim serei livre.
Livre para tentar mudar o mundo, pois a mim já terei mudado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sobre mim

Perdida no tempo, sem noção de espaço ou de qualquer outra coisa.
Já não me lembro mais que dia é hoje. O ontem parece tão distante e o amanhã, aparenta não querer chegar. Não sei mais porque estou aqui, não sinto mais meus pés no chão. Olho ao meu redor e não vejo nada além da poeira que o vento levantou. Os escombros revelam que uma grande tristeza se abateu sobre esse lugar, sobre mim. Aquela velha música ainda soa suavemente aos meus ouvidos e tudo aquilo que faz parte de mim já não faz mais sentido. 
Meus pés estão cansados de tanto andar, de procurar algo significativo. Não vejo mais motivo para continuar aqui. Não sinto nada, não vejo nada, não quero nada.
Não sei se tudo isso é a existência de um lugar vazio ao meu lado, se é perda daquilo que se guardava. Eu não sei. Talvez a dor tenha sido tão forte, que me fez esquecer. Esquecer do ontem, do hoje e do que mais estiver por vir. 
Nada faz sentido, nada. Aquelas coisas que me constituíam hoje estão em pedaços. E olhar para esses cacos dói. Dói porque a única lembrança que tenho de mim mesma é a imagem do meu rosto refletida no espelho. Esqueci meu nome, quem eu sou.
E sobre mim, a única coisa que consigo saber é que estou perdida no tempo e para onde eu olho, tudo que vejo é a poeira que o vento levantou.