sábado, 23 de junho de 2012

Fingida Feição do Espelho


Ela se olhou no espelho e começou a tirar todas aquelas máscaras que cobriam seu verdadeiro rosto. A primeira a ser removida foi a vaidade. Era dentre todas, a máscara mais bonita. Vinha num tom vermelho brilhante, mas era também a mais fina, a mais frágil. 
A segunda máscara se chamava egoísmo. Essa era azul-escuro e foi uma das mais difíceis  de ser tirada, tinha o formato exato de seu rosto.  
A cada máscara que ia tirando, as lágrimas iam escorrendo. Se sentia limpa e livre, como jamais sentira antes. Quanto mais se despia, mais profundo ia. Começava a se conhecer de verdade e pela primeira vez, desde que estreou nesta vida.
Por fim, a última máscara que se arriscava a tirar era o orgulho. Essa impregnava seu rosto. Era preta e a mais grossa. O disfarce começava  a derreter, gerando pingos grandes na pia branca do banheiro. Doía muito se ver livre daquilo. Tirava com cuidado e de vagar, para ir se acostumando. Quando conseguiu terminar, seu rosto estava na carne viva. Mas ela estava bela. Bela como nunca, bela de verdade, nua e crua. Pronta para enfrentar os maiores desafios da vida, sem medo, sem apego, sem posse. Estava tão livre, que poderia até voar. E ali, em frente ao espelho, ela encontrou a felicidade. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Realidade Ilusória

Não sei para quem nós apresentamos nosso espetáculo, cenas improváveis, improvisadas.
Fomos nós os nossos próprios espectadores? Provavelmente.
Você ali, fingindo que me convencia e eu convencida e fingida.
Fingi que acreditei  e que você precisava de mim. 
Protagonistas e antagonistas, nos demos as mãos e empurramos com a barriga.
Verdade? Bobagem. 
Me arrependo de não ter vendido ingressos e colocado nossa peça em cartaz.
Lágrimas de frascos, palavras pensadas.
Você me disse o que eu queria ouvir e eu, cheia de satisfação insatisfeita, topei o pacto. 
Procurei interpretar o meu papel com veemência, mas tive que abrir os olhos, afinal.
Me despedi da ilusão que eu ajudei a criar, desci do palco, abandonei as máscaras e o figurino.
Esqueci o texto, cansei das palavras ensaiadas.
Decidi viver minha vida com os pés na realidade. 
Abri os olhos e só agora posso ver que, por causa do orgulho, quase morri 
No espaço entre a loucura e a realidade.