quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um conflitante diálogo comigo mesma

Desde que nascemos, somos submetidos à nossa própria opinião e à opinião alheia sobre quem somos. Aos olhos de quem nos vê, somos alguém com certas características, certos gestos e atitudes. Aos nossos olhos somos alguém que, muitas vezes, não é o mesmo alguém idealizado por quem nos observa. Se nossas atitudes dizem muito sobre nós e estão orientadas no espaço em que vivemos, ou seja, estão relacionadas com o mundo que nos cerca, as tomamos por um motivo, causa ou razão que se enquadra na sociedade. Logo, se essas atitudes são "escolhas" pré-existentes no meio em que vivemos, não as tomamos por acaso, o que faz com que não possamos escolher uma maneira de ser ao acaso. - Pensava eu enquanto olhava através da janela do ônibus . O dia acabava de começar e estava ensolarado. 

Com as relações com pessoas e sociedade que nos são bombardeadas logo que tomamos consciência de nós mesmos, deixamos de ser quem ainda não somos para nos tornar fruto da nossa imaginação, da imaginação alheia e da sociedade em que estamos inseridos. E já que vivemos em conjunto e pelo que consta, isso nunca irá mudar, então nunca seremos nós mesmos, puros por natureza, sem influência de um meio externo. - Articulava eu uma explicação para me convencer do "ser ou não ser". Nessa hora, a moça que estava sentada ao meu lado deu sinal para descer do ônibus. Dando licença à jovem, quase deixei fugir o pensamento que me embriagava. Forcei para puxá-lo pelo pé. Com muito custo, consegui me lembrar da última palavra que pensei. 

Ditados por tudo que nos cerca, menos por aquilo que seríamos puramente e nunca seremos, moldamos a sociedade que nos molda e criamos novas personalidades que serão e não serão. Um ciclo vicioso que criamos e que nos cria. - Suspirei eu num alívio misturado com pesar. Pesar, pois tinha acabado de descobrir que era exatamente aquela a verdade de que eu tanto precisava para me convencer. Mas tinha descoberto também que aquela discussão que eu criara era o monstro que me engoliria um tempo mais tarde de tanto pensar sobre ele. Para minha sorte, o ônibus se aproximava do meu ponto de descida e parei de filosofar para me preocupar com o modo que usaria para passar naquele labirinto de pessoas que estava no ônibus. Por fim, desci do automóvel e continuei meu caminho, sendo engolida vagarosamente pelo monstro que eu mesma criei.