Escrever um texto é como criar um
personagem. Ele começa a desenhar-se livremente, se autoconstruindo. Escrever
um texto é deixar as ideias dançando no papel, brincando e dando cambalhotas. É
deixa-las discutirem entre si e resolverem qual o melhor destino para a
caneta. Vão criando o ambiente, colorindo os objetos, tocando
instrumentos e musicando versos.
Quando alguém escreve um texto, deixa uma parte sua
desenvolver-se sozinha, como um filho. São ideias do autor que tomam uma forma
própria. Uma vez no papel, as ideias serão redesenhadas a cada vez que um
leitor for visita-lo. O texto então terá várias faces, dependendo de quem o
interpreta.
O autor é apenas um veículo usado pelas ideias para chegarem ao
papel. Dali em diante elas vão frequentando outros pensamentos, visitando novas
mentes, experimentando novas visões. Não são estáticas. Estão em constante
movimento e sempre têm muito a dizer. Vão viajando pelo mundo,
espalhando-se, transformando-se. As ideias são almas, palavras são corpos,
então as ideias encarnam-se. Seguem o caminho que bem entendem e constroem o
mundo do jeito que querem. Ideias são quase independentes. São senhoras
de si e embriagam quem as tomam.
Ideias são espíritos livres que vagam pelas esquinas enfeitiçando poetas.
Ideias são eternas. São metamorfoses ambulantes.