sábado, 31 de dezembro de 2011

Clarisse

E ali estava ela forte e delicada, mesmo depois de tudo que lhe acontecera. Estava ali, naquela velha casa, sentada perante sua janela preferida e observando através desta, o doce balançar das folhas das árvores. Por algum motivo, aquela cena sempre lhe chamara atenção, desde quando ainda era um bebê. E como era de se esperar, as coisas não mudaram muito desde aquela época. Ela sempre soube que entender a vida seria uma coisa tão simples e tão valiosa, que as pessoas jamais poderiam notar. Sim, pois estaria tão óbvio para elas que jamais desconfiariam. E assim, passariam pela vida sem ao menos ter parado para observar o doce balançar das folhas das árvores.


Depois daquele acontecimento de tanto impacto em sua vida, ela sabia que as pessoas a tratariam de modo diferente. Talvez por sua atitude, talvez pela gravidade do fato. Ou talvez por não desconfiarem do que se tratava propriamente. Mas ela sabia, no seu íntimo, que a ideia das outras pessoas não tinha a menor importância. Ela tinha coisas mais importantes para se preocupar naquele momento.


Que era especial, poucos sabiam. Não por ser melhor que alguém, mas por saber observar. Coisa que grande parte das pessoas não sabia. E observar ela sabia muito bem. Foi observando que conseguiu entender desde as coisas mais simples até as mais complicadas. Foi observando que compreendeu que para entender o complicado, é preciso apenas entender o simples.


E o simples naquele momento era o doce balançar das folhas das árvores. E o complicado, a vida. Naqueles traços da antiga casa, ela pôde se lembrar de muita coisa. De que não adianta cair numa hora tão decisiva, afinal os segundos seguintes servirão apenas para reerguer. E muito provavelmente não haverá ninguém para ajudar. Como não havia naquele momento.


O cantar dos pássaros, o soprar do vento, aquele sentimento que insistia em estufar- lhe o peito só indicavam uma coisa. E ela sabia o que era. Tinha de levantar, de seguir em frente, mas sem esquecer a leveza no modo de ver as coisas, de olhar para o mundo, para o outro e para ela mesma.


Partindo de si mesmo era possível entender o universo, e ela sentia isso. E sentada ali, perante sua janela preferida, pensou em tudo, na vida que levara até ali, nos acontecimentos recentes. Mas pensou, principalmente, sobre o doce balançar das folhas das árvores. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ímprobo

Sinto muito lhe dizer, mas te amo
Amor doce, inconsequente, quente.
Como posso te abandonar
Se só em ti tenho um lar?

Não sei se sou para você
O que és para mim,
Mas não importa,
O tempo dirá.

Capaz de pôr a mesa, desejar bom dia
Me fazer a mais feliz
Mas também, num golpe súbito
Conhecer o calor do inferno.

Teces tuas palavras em meu ouvido
Toma-me em seus braços.
Eu sei, sou sua
E não há como fugir.

Teu calor, teu gosto e teu cheiro
Inconsequente, inconsciente, ímprobo.
Meu coração é seu
Seu coração é meu.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A casa dos espelhos

Não sei porque te dei esse nome, só sei que lhe caiu tão bem, que nem convém pensar no seu significado. Lembra quando nos conhecemos? Eu nem sabia direito qual era seu nome, tão pouco quem você era. Mas te quis. Sei que no começo preferia outro alguém e logo depois descobri que ninguém se compara a você. Lutei e consegui. Foi como num golpe de sorte. E foi incrível. Fui te descobrindo pouco a pouco. Ai conheci aqueles que chamaria de amigos. Ai você foi se tornando minha vida. O quanto eu me dediquei, o quento eu lutei. E como num passe de mágica, você, incrivelmente, foi me mostrando imagens que faziam parte de outras almas, mas também faziam parte da minha. Como eu te amei, como eu te amo. Nas suas paredes está minha história contada por você mesmo. Foi pra você que eu corri quando eu não tinha casa. Enfim, obrigada. Eu jamais vou te esquecer. Você está em mim como uma tatuagem.




COLTEC UFMG.