quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mundo Descartável

Naquele dia, cheguei em casa e pluguei meus dedos na tomada. Meus olhos começaram a transmitir o jornal da TV, que noticiava roubos,  fraudes, acidentes e desvios, pessoas em favelas passando fome, a sede no sertão e concentração desleal de renda. Minha boca, sintonizada nas ondas de rádio, gritava músicas descompassadas e desrespeitosas. Meus ouvidos, antenas ligadas, rodavam procurando algum sinal. 
As pessoas da casa procuravam parafusos para consertar os braços e pernas quebrados. Jogavam pela janela latas enferrujadas e comida fast-food. 
Na rua, ouvia-se tiros, como se as pessoas travassem uma 3° Guerra. As balas batiam no peito e amaçavam a lataria brilhante. 

Antenada em tantas coisas ao mesmo tempo, comecei a sentir meu corpo quente, estava ficando cada vez mais carregada negativamente. De súbito, pifei. Nessa hora, não conseguia mais pensar. Aquilo que restara de mim concentrava-se em tentar me manter conectada. As redes sociais começaram a divulgar o meu triste destino de objeto queimado e centenas de pessoas curtiram o fato. Nesse mundo onde todos adoram um desastre.

Triste, meus olhos começavam a derreter. Tudo estava ficando obscuro, meus sentidos se esvaíam, meu corpo estava fundindo. No último suspiro antes de me desligar, olhei para aquela que me fez como numa súplica. Meu coração batia cada vez menos. Será que ousaria me jogar fora? Ou ainda cogitava a possibilidade de me consertar?



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